terça-feira, 24 de março de 2015

Os Pés de Verso

Postagem originalmente editada em 10/3/2008.

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A Poesia e a Melodia

Além de bela, a Poesia é uma ciência cujos elementos começaram a chegar a partir do que se usou chamar por Classicismo.

Quando várias pessoas observam um mesmo evento têm diferentes e respectivas interpretações. Algumas apenas observam-no superficialmente e outras o fazem minuciosamente. Uma parte delas prende-se à beleza exterior, outras às minúcias comuns às qualidades boas e más de um ou mais eventos.

A repetição dessas observações nas pessoas acaba por fornecer aos seus raciocínios escalas subjetivas de parâmetros, que doravante definirão as qualidades dos eventos observados em Bons e Maus.

Tanto um quanto outro apresentarão qualidades próprias repetitivas, vindo daí as regras da beleza e da feiura. Ambas subjetivas, mas, para a nossa sorte, semelhantes o bastante para se tornarem objetivas, originando finalmente um estudo que dividirá os homens em de bom ou mau gosto. Foi assim que nasceu a Ciência Poética.

Quanto a nós, todos têm a liberdade de escolha para optar pelas musas de um Vinícius de Moraes, de um Gilberto Gil..., ou pelas cachorronas do Funk.

- Gosto não se discute!

Para que essas musas surgissem foi necessário que a humanidade traduzisse ao mesmo tempo as suas prazerosas linguagens subjetivas, tanto pelo que se escrevia quanto pelo que se escutava, formulando os primeiros conceitos objetivos de Poesia e Melodia.

O histórico do termo, Poesia, mostra que ele mudou ao longo dos anos, também vitimado pelas sucessivas transformações que o Neologismo dá aos termos mais idosos:

Do original conceito de Tradução do Sentimento por um texto disposto em versos à ideia atual, que o tornou como um simples sinônimo de Beleza, seja ela qual for em qualquer aspecto artístico.

O termo foi perdendo a essência grega vinda do viajante fenício, Cadmo, que na procura da irmã, Europa, perdida em alguma das ilhas do Mar Egeu apresentou à Grécia a palavra mágica - Alfabeto - para que tanto artistas, como Homero, quanto gramáticos, como Heródoto, pudessem descrever as suas respectivas Odisseia e Folnikeia Grammata (Gramática Fenícia), mas a sensatez sugere termos mantido o significado de Poesia mais próximo do de texto escrito em versos do que das artes plásticas, por exemplo. Poesia não é desenho ou fotografia. É texto.

Uma vez localizado o significado original do termo Poesia, associado ao Alfabeto de Cadmo, como nasceu o significado do termo, Melodia?

Voltando ao fragmento poético colocado no início:
...Mesmo porque as notas eram surdas
Quando um deus sonso e ladrão
Fez das tripas a primeira Lira
Que animou todos os sons...

Por ter nascido na Mitologia Grega com a deusa Harmonia, a caracterização conceitual de Melodia surgiu após Cadmo levar para Harmonia os segredos dos caracteres alfabéticos, mas não quer dizer que o sentimento melódico da humanidade não existisse antes disso. Apenas não havia ainda sido descrito por palavras.

- Mas afinal, quem nasceu antes, a Poesia ou a Melodia?

É difícil de saber. Ambos os sentimentos já existiam muito antes de Cadmo e Harmonia. Prefiro suspeitar como nasceram as Composições Musicais que são, até hoje, derivadas das ancestrais núpcias de Cadmo e Harmonia.

Sendo difícil a resposta, ousarei basear-me no conjunto conceitual Apolo e a Lira, no qual Apolo declamava e o som da Lira ilustrava as suas declamações, que após um tempo passaram a ser cadenciadas pelos Pés dos ouvintes com batidas fortes ou fracas, surgindo naturalmente o viria a ser conhecido por Ritmo Poético.

Por ser divertido um grupo de pessoas baterem simultaneamente os pés em iguais formas, a imaginação primitiva elaborou as primeiras Coreografias em grupos, imitando o mais velho dos ritmos que o homem já conheceu, o do Coração, que apresenta dois tempos: um forte e um fraco, ou vice-versa.

Supondo que a ideia original optou pela batida forte como a primeira seguida da fraca, deram a essa manifestação o nome de Coreu, ou Troqueu, num típico Compasso Binário (dois tempos) forte-fraco.

Reparem nas semelhanças dos termos: Coreu - Cuore (Coração em Italiano)- Coreografia (descrição por Coreu). Ritmo no Verso - Coração - Dança.

O Homem estava batizando as suas artes pelo seu elemento fundamental da vida: O Coração, cujas variações rítmicas deram origem aos Pés de Verso com tempos próprios.



Pés de Verso Binários - Os descritos por dois tempos:

a) COREU ou TROQUEU - sílaba tônica seguida de átona: (plá-tum). Exemplos:

SEI que / SOU um / PÉ de / VER so

QUE se-al / TER na / NO seu / NO me

SOU co / REU no / PON to / CER to

OU tro / QUEU que / SE con / SO me

Versos construídos com quatro pés Coreus, ou Troqueus, em cada.


b) JAMBO ou IAMBO - O inverso de Coreu: (tum-plá). Exemplos:

o JAM / bo É / um PÉ / mais PAR 

que NEM / fei JÃO / e-ar ROZ 

pro FRA / co-a NUN / ci AR 

que-o FOR / te VEM / de POIS   

Versos construídos com três pés Jambos, ou Iambos, em cada.


Pés de Verso Ternários - Três tempos:

a) DÁCTILO - sílaba tônica seguida por duas átonas: (plá-tum-tum). Exemplos:

QUAN do fa / ZE mos po / E mas com / DÁC ti los 


TE mos que-u / SAR um pou / QUI nho de / LÓ gi ca


PRO va vel / MEN te mu / DAR mos os / HÁ bi tos

AO tra ba / LHAR com a / SÍ la ba / SÓ li da

Versos feitos com 4 pés Dáctilos em cada. 

b) O ANAPESTO é um Pé de Verso, ou Metro, com três tempos (ternário), que apresenta os dois primeiros deles fracos e o último forte – duas sílabas átonas seguidas de uma Tônica. Exemplos:

Es ta REI/ a ma NHÃ / por a QUI 


Es tu DAN / do-o ter NÁ / rio ca PAZ

De-ex pli CAR / o-A na PES / to que FIZ 

Com a SÍ/ la ba ME / nos fu GAZ



Pés de Verso Quaternários - Quatro tempos:

O Coriambo é resultante da junção de um Coreu com um Iambo, como o próprio nome indica.
Apresenta o primeiro tempo Forte, seguido de dois fracos, seguidos de outro Forte – uma sílaba Tônica, seguida de duas átonas, seguidas de outra Tônica. Exemplos:

MI nha ra ZÃO 
VEM de vo CÊ 
VER so cor DÃO 
DES te que RER 

Estrofe Quadra (4 versos) feita só com versos que contêm só um coriambo em cada.


Espondeu é um que tem o primeiro deles fraco, seguido de dois Fortes, seguidos de outro fraco – uma sílaba átona, seguida de duas Tônicas, seguidas de outra átona. Normalmente, na poesia latina, esse pé surge mais com o nome de Efeito Espondaico, como
resultante da soma de dois outros pés em sequência, que juntem duas sílabas tônicas em tempos imediatos. Exemplos:

Mas EIS / que che GA-A / RO da / VI va – > jambo-anapesto-coreu-coreu.

O verso acima é um exemplo do Efeito Espondaico.

So NHEI TU do-o / que AN / tes NÃO / vi VI /

Por QUE NUN ca / eu DE  / ci DI  / mu DAR  /

Já estes dois abaixo iniciam com o pé Espondeu seguido de 3 Jambos.

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