quarta-feira, 25 de março de 2015

A Versificação e a Estrofe

Postagem Original - Março de 2008.


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A Versificação é o ato de descrever o pensamento num texto disposto em Versos. Ao longo dos anos a Versificação ganhou normas próprias e, após os devidos entendimentos entre Poetas e Gramáticos locais, gerou um Código de Regras conhecido pelo nome de Ciência Poética.

O Verso passou a ser estruturado pelo estudo das sílabas, que podiam diferir das gramaticais pelas naturais tendências idiomáticas das falas, ganhando formas próprias definidas pelas quantidades de sílabas por verso, o que ficou conhecido pelo nome de Métrica.  

Uma vez definidos os Comprimentos de Versos, pela Métrica, os estudos se voltaram para as tonicidades das sílabas que compunham os versos, e a tal elemento da Ciência Poética deu-se o nome de Ritmo Poético, ou mesmo Cadência do Verso.  

Ao ganharem as regras básicas, de Métrica e Ritmo, os poemas começaram a apresentar uma elegante uniformidade dos versos, idênticos nesses dois elementos, mas ao longo dos anos os poetas buscaram pelos versos, desiguais nos elementos, novas configurações estéticas para os poemas, o que fez com que a Versificação se dividisse até hoje em dois tipos ou formas: 

a) Versificação Regular - Todos os versos com Métrica e Ritmo iguais.

Poemas Regulares são aqueles cujos versos apresentam identidade em Métrica e Ritmo, ou seja: - Todos os versos com a mesma quantidade de sílabas, cujas tonicidades se repetem nas posições das mesmas em cada verso. Exemplo:

e-o/ VER/ so/ nas/ CEU        - 2-5
nas/ RE/ gras/ do-a/ QUÉM  - 2-5
dei/ XAN/ do/ pro/ CÉU       - 2-5
 as/ COI/ sas/ do-a/ LÉM      - 2-5

No início do aprendizado, devo sempre lembrar que as sequências de números após os términos dos versos indicam as posições das
sílabas tônicas neles. No exemplo acima todos os versos tiveram 
tonicidades nas segundas e quintas sílabas, logo, apresentaram Métrica = 5 e Ritmo Poético 2-5.

b) Versificação Irregular - Versos com Métricas e/ou Ritmos distintos. Deu origem aos Poemas Irregulares, que são os que apresentam versos com Métricas diferentes, mas possuem uma coerência rítmica. Por exemplo:

eu / TI / nha / de / SER  -  2-5
um / PO / bre / po / E / ta-e / can / TOR - 2-5-8
sem/ PAZ / pra-en / xer / GAR / um / a / MOR - 2-5-8
nas/ CER - 2

Nos primórdios da versificação os sentimentos eram descritos nos poemas num único bloco de versos. Com o passar do tempo as descrições dos pensamentos também passaram a ganhar novas estéticas, com os sentimentos dispondo os versos em mais de um bloco textual, surgindo então as Estrofes.

Estrofe é então cada bloco de versos utilizado para transcrever às
particularidades sentimentais contidas no amplo contexto poético do poema.

Esse elemento da ciência poética foi o que mereceu maiores cuidados dos poetas e gramáticos, pois envolveu muita discussão acerca do que determinaria à quantidade de versos numa estrofe: - O Fragmento filosófico do contexto ou a sua Sintaxe descritiva?

Surgiram as estrofes com diferentes quantidades de versos, bastantes a atender tanto às regras gramaticais, relativas aos períodos sintáticos, quanto aos fragmentos sentimentais do poeta no contexto do poema, e assim nasceu a Estrofação

Estrofação é, portanto, o estudo das construções das estrofes nos poemas e se divide em dois tipos:

a) Estrofes Simples - Formadas por versos Regulares em métrica.


b) Estrofes Compostas - Versos Irregulares em métrica.

Quanto às quantidades de versos formadores, surgiram as Estrofes com Nomes Próprios, tais como:

1) Estrofe de Verso Único ou Monóstico - Esse tipo de estrofe se presta mais a causar uma expectativa pelo texto que virá na estrofe seguinte. Como um anúncio.

2) Estrofe Dístico - Estrofe com dois versos. Geralmente usa óbvias Rimas Paralelas.

3) Estrofe Terceto - Contendo três versos, geralmente usa rimar um dos versos com o de um outro terceto posterior.

4) Estrofe Quadra - Possui quatro versos, cuja forma “culta” apresenta rimas dispostas ou em forma Alternada, ou Oposta. É a estrofe mais popular.

5) Estrofe Quintilha - Possui cinco versos. Na Poesia Inglesa temos o tipo Quintilha Heroica.

6) Estrofe Sextilha - Contendo seis versos, é normalmente desdobrável em dois Tercetos.

7) Estrofe Sétima - Estrofe com sete versos, cujo auge ocorreu na Poesia  Trovadoresca.

8) Estrofe Oitava - Contém oito versos e apresenta três tipos principais:

a) Oitava Simples - Apenas oito versos constituindo um único pensamento.

b) Oitava Heroica - Apresenta oito versos decassílabos (10 sílabas) com Rimas Alternadas nos seis primeiros e Rimas Paralelas nos dois últimos.

c) Oitava Lírica - Junção de duas Quadras feita por dois aspectos: Continuidade de pensamento e/ou rimas relacionando os versos 1 e 5 ou 4 e 8.

9) Estrofe Nona - É feita com nove versos.

10) Estrofe Décima - Contendo dez versos, geralmente trata-se da junção de uma Quadra com uma Sextilha, ou mesmo de duas Quintilhas. A história registrou um tipo específico de Décima, surgido entre os séculos XVI e XVII, a Décima Espinela, criada pelo poeta espanhol Vicente Espinel, que apresenta rimas ligando os versos 1,4,6 - 2,3 - 5,7,10 - 8,9.

11) Estrofe Livre ou Estrofe Polimétrica - Estrofe que apresenta mais de 10 versos. A Versificação Regular não usa trabalhar com ela, daí o nome Polimétrica, no entanto existem casos de Poemas Regulares que apresentam até 15 versos em cada estrofe.

Há uma estrofe, cujo número variável de versos varia  de acordo com a vontade do poeta, e se chama Refrão.

A Estrofe Refrão é aquela que, por questões de realce textual, se repete entre as demais estrofes num poema, pertencendo ao gosto do poeta a quantidade e a forma com que o refrão se repetirá.

À proporção em que as estrofes, tanto Simples quanto Compostas, deram novas estéticas aos poemas, começaram a surgir novos poemas que se caracterizavam por apresentar uma idêntica configuração estrófica nos fragmentos do pensamento nos contextos poéticos, surgindo assim as Construções Poéticas de Forma Fixa, determinadas por regras de disposição das estrofes associadas às das distribuições de Rimas.  

Construções Poéticas de Forma Fixa ou Poemas de Forma Fixa.

Caracterizadas por tipos específicos de estrofes. Originalmente exigiam Estrofes Simples, entretanto, no correr dos anos, aceitou-se também às Estrofes Compostas. Temos as seguintes mais utilizadas:

a) Balada - Formada por três estrofes longas, além de uma Refrão, cuja quantidade de versos é a exata metade delas repetida entre as mesmas.

A balada mais usada sempre combinou Oitavas com Quadras, sendo também o conjunto, Décima-Quintilha, muito apreciado pelos poetas, entretanto nada impede de ocorrer uma Balada associando Quadras a Dísticos, posto que vários poetas, utilizando-se dos versos longos, já tentaram associar os conceitos da Balada ao do Soneto Inglês em único poema.

À Balada que apresente o mesmo som nas rimas dos versos finais das estrofes longas, dá-se o nome de Balada Lírica.

Recentes pesquisas arqueológicas, na Escrita Minóica Linear C, mostraram poemas em homenagem a Dionísio, o popular Baco, feitos em Baladas, o que transporta as bases da Ciência Poética para o período Pré-Clássico grego.

b) Soneto Italiano - Apresenta um total de catorze versos Decassílabos Heroicos (acentuação obrigatória nas sílabas 6 e 10), dispostos em duas Quadras e dois Tercetos, com dois grupos de rimas colocados nas formas Alternada ou Oposta, repetidos nas Quadras, e, obrigatoriamente, dois ou três grupos fônicos interligando os Tercetos.

c) Soneto Inglês - É mais recente em nossa literatura e consiste em distribuir os mesmos catorze versos Decassílabos Heroicos em três Quadras e um Dístico, apresentando dois grupos fônicos, em rimas Alternadas ou Opostas, específicos a cada uma das Quadras, o que totaliza seis grupos nas três quadras; e um sétimo grupo no dístico, colocado em forma paralela. 



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