Índice Principal
Anterior
Ao longo dos anos, a Ciência Poética fundamentou a linha
divisória entre a Poesia e a Prosa nas catorze Sílabas Poéticas, e a contagem
silábica de cada verso se encerrando na última sílaba tônica.
O estudo da contagem das sílabas poéticas de um verso chamou-se de , com cada verso recebendo então os nomes de Metro, ou Pé.
Métrica.
Para estudarmos a Métrica dos versos é necessário
entendermos o significado de Sílaba Poética, que nada mais é do que os sons
resultantes das nossas tendências idiomáticas nas falas cotidianas.
Numa análise poética da Métrica poética, usa-se separar as sílabas poéticas pelo sinal, / , e nos casos de fusão das sílabas gramaticais numa só poética usa-se o sinal, -, ligando-as. Esse tipo de descrição analítica recebe o nome de Escansão do Verso. Por exemplo:
Numa análise poética da Métrica poética, usa-se separar as sílabas poéticas pelo sinal, / , e nos casos de fusão das sílabas gramaticais numa só poética usa-se o sinal, -, ligando-as. Esse tipo de descrição analítica recebe o nome de Escansão do Verso. Por exemplo:
Es ta va-à to a na vi da.
A gramática diria: - Possui nove sílabas!
Se prestarmos atenção na interpretação musical (A Banda-Chico Buarque),
perceberemos 8 tempos, pois o pensamento foi pronunciado da seguinte
maneira:
Es/ TA/ va-à/ TO/ a/ na/ VI/ da - 2-4-7
Lembro que a Escansão é o ato de Escandir o Verso. A sequência numérica, logo após o final do verso, indica ter sido ele acentuado na segunda, na quarta e na sétima sílabas. Esse tipo de registro será visto também mais adiante no elemento Ritmo Poético.
No exemplo acima, tivemos as nove sílabas conceituais da gramática dispostas em sete poéticas pela natural tendência idiomática, que costuma fundir, em única sílaba, vogais imediatas, ainda que pertencentes a palavras distintas.
No exemplo acima, tivemos as nove sílabas conceituais da gramática dispostas em sete poéticas pela natural tendência idiomática, que costuma fundir, em única sílaba, vogais imediatas, ainda que pertencentes a palavras distintas.
Como a Poesia Latina regra que, em comprimento, o verso
encerra em sua última sílaba tônica, tal verso da Banda tem sete sílabas, posto que a sílaba átona, posterior à sua última tônica, é
desconsiderada na contagem.
Essas fusões silábicas, naturais do idioma, são feitas de
várias formas, conhecidas pelos seguintes nomes:
a) Crase - Quando juntamos vogais idênticas: Deixei a fé em
casa me-escutando.
b) Sinalefa - A primeira vogal perde a autonomia
silábica anterior tornando-se semivogal num ditongo: Não come-agora.
c) Elisão - A primeira vogal perde o som para a
segunda: Ela-e sua panela-esfriando.
d) Elipse - A primeira vogal perde a ressonância nasal:
"com + o = c´o - co´a = com + a":
Eu c´o meu violão.
Pra cantar co´a voz do não.
Pra cantar co´a voz do não.
e) Hiato Intervocabular - Considerado por alguns como
"afrouxo de verso" e por outros como "realce de palavras":
Antes que-o-ardor me tome.
f) Sinérese - Transforma ditongo em hiato num vocábulo: a li
ás - a liás.
A liás, da próxima vez vote direito.
g) Diérese - O inverso da Sinérese: a güen ta - a gu en ta.
Aqui ninguém me a gu en ta mais.
h) Aférese - Supressão de som no início do vocábulo: es ta
va - ´s ta va.
i) Síncope - Idem anterior no meio do vocábulo: esperava-espr´ava.
j) Apócope- Idem anterior no fim do vocábulo: mármore-mármor´.
Creio que essas dez possibilidades de confecção das sílabas
poéticas já bastem à compreensão métrica da maioria das construções poéticas da
MPB, todavia, todo poeta estudioso da ciência poética sempre busca nelas os
seus desafios métricos no interior dos poemas.
Atrevo-me até a dizer que alguns experimentam sensações de
agonia e êxtase, entre os esboços de um guardanapo e a arte final do poema
pronto.
Agonia, enquanto tenta enfiar uma quantidade maior do pensamento disposto em sílabas, tendo de obedecer a um Ritmo Poético dos
versos anteriores para não "Mancar o verso" (quebrar o pé), enquanto
pensa nos versos posteriores que acomodarão o restante da ideia, o que
poderíamos, tranquilamente, chamar de Ideografia Poética, extraída quase que
instantânea, pelo curto tempo em que o Quadro Inspirador e a Tradução
Ideal costumam se apresentar simultaneamente.
Êxtase, quando consegue, em um só tempo rítmico e sonoro,
enfiar um monte de caracteres alfabéticos dos sons. Vejam o que ocorreu na música, Almanaque (Chico Buarque):
Diz/ quem/ é/ que/ mar/ ca/ va-o/ ti/ que/ ta/ que-e-a-am/ pu/ lhe/ ta/ do/ tem/ po/ dis/ pa/ rou.
Percebam que conseguiu pronunciar quatro sons distintos,
dispersos em sete caracteres alfabéticos, num só tempo poético: "que e a
am".
Agora reparem no texto desse verso, onde ele até brinca com
o assunto da métrica, no tempo rítmico poético, para explicar a esquisitice da
sílaba.
Brincar com as palavras nos versos das composições, e ainda
desafiando a toda uma Ciência Poética, sempre foi diversão comum a certos poetas da MPB.
k- Anáclase - Ainda dizendo respeito às noções de Métrica, esse recurso consiste na construção de uma sílaba
poética a partir da fusão de vogais, da sílaba final de um verso com a inicial
do verso seguinte. Isso ocorre normalmente com sílabas átonas dos dois versos:
Eu/tam/ bém/fui/ um/ ro/, quei/ ro-
-À/ mar/ gem/ da/ vi/da
An/ tes/ que-o/ sam/ ba/ che/ gas/ se-
-E a/ mas/ se-a/ fe/ ri/ da
Em Métrica, a Anáclase se presta à absorção da sílaba
inicial do verso posterior, ou à captura da do verso anterior para reforçar à
primeira do seguinte. No exemplo acima, ocorre a segunda possibilidade.
Vistas as originais regras poéticas da Anáclase, quanto às
tonicidades das sílabas envolvidas, vejam o que Chico inventou, vinte anos após
Pedro Pedreiro, na composição Pelas Tabelas:
Eu/ pen/sei/ que-e/ra/ e/la/ pu/xan/do-um/ cor/
dão-
-Dão/ oi/to/ ho/ras/ e/ dan/ço/ de/
blu/sa-a/ma/re/la
Se não tivesse inventado essa Anáclase, com sílabas
tônicas e iniciadas em consoantes, que possibilitou ao verso anterior absorver
à primeira sílaba do seguinte, teríamos uma quebra de pé, ou o chamado
Verso Manco.
Teria a sorte, ou a casualidade, premiado o poeta, ou teria
ele feito tudo isso propositalmente, para inovar mesmo?
Mais abaixo, na mesma composição, observem o que ocorreu:
Eu/ a/chei/ que-e/ra/ e/la/ vol/tan/do/ pra/
mim-
-Mi nha/ ca/be/ça/ de/ noi/te/ ba/ten/do/
pa/ne/las
O que o autor fez foi fundir sílabas pelos sons idênticos, numa espécie de Crase, só que com três letras, sendo a
primeira delas uma consoante, e aproveitando parte do som pertencente à segunda
sílaba do verso posterior.
Tomando como base os quatro primeiros versos da canção, Pedro Pedreiro (Chico Buarque), cito um outro recurso poético, também referente à
Métrica:
l- Cavalgamento, surgido na poesia francesa com o nome
Enjambement, consiste em se transferir para um verso, posterior ou
anterior, parte do conteúdo sintático de outro, com a contagem silábica
iniciando na parte transferida para o anterior, ou terminando na transferida
para o posterior. Vejam como ficaria a contagem silábica do exemplo:
Pe/dro/ pe/drei/ro,// Pen/sei/ro-
1 2 3
4 // 1 2 3
-Es/pe/ran/ do-o/
trem
3 4
5 6 7
Ma/nhã/ pa/re/ce,// Ca/re/ce
1 2
3 4 // 1 2 3
De-es/pe/rar/
tam/bém
4 5
6 7 8
Percebam que o uso do Cavalgamento camuflou, pela estética,
a um desequilíbrio métrico dos versos. Houve um erro
conceitual de Métrica, pois, originalmente, o Enjambement já nasceu com a exigência
da contagem silábica presa ao conteúdo sintático do verso.
Historicamente, o Enjambement foi um marco para diminuir o
impacto da guerra entre poetas e gramáticos nos movimentos literários, porque,
com a entrada da gramática nos destinos dos versos, a Ciência Poética deixou de
ser alienada e, ganhando um Corpo Literário mais organizado, se tornou
historicamente definida e localizada nas datas, porém, junto com isso, ganhou
muitas regras a serem cada vez mais vistas adiante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário